Não sei se é assim com todos que tocam um instrumento musical, mas a minha sensação é a de que meu instrumento é uma extensão de mim de tal forma que de vez em quando, quando saio de casa sem ele, sinto que estou sem um membro do corpo.
Este é um relato pessoal sobre três jam sessions das quais uma, eu não estive presente, mas meu violão pôde me contar a história.
Session 1: Eu não fui, mas ele foi.
Era pra ser só uma session, mas foi um sábado tenso em minha vida.
Tenso não é uma boa palavra pois dia 14/9 é aniversário da minha mãe. Eu não moro com a minha família e nem na mesma cidade que eles já há uns bons anos, então tento estar com eles nas datas importantes. Quem mora fora sabe como é difícil conciliar o amor pela família e a vida que sonha.
Já fazia um bom tempo que eu havia combinado de estar com eles até que um belo dia, um amigo querido de uma banda que eu adoro, a Terra Celta, combinou uma session em um pub que amo exatamente nesse dia.
Ai meu coração. Eu não estaria em São Paulo.
Adoro sessions e um amigo que eu vejo pouco vinha tocar pras bandas de cá. Quase desisti de viajar pro interior. Mas era uma data especial e eu também queria muito estar lá. Então mantive a ideia e fui.
No sábado em questão, eu só via as mensagens e as fotos chegando. O som rolando, a galera adorando e, poxa, eu totalmente longe desse rolê. Quase bloqueei as mensagens (rs) mas segurei a onda e foquei no que era importante neste dia: senhora mamis.
Mandei uma mensagem no grupo toda emotiva como eu sou. Fingi que nem sabia que tinha session mas é lógico que não funcionou. Segui.
Porém num dado momento um amigo me manda uma mensagem me perguntando se ele poderia levar meu violão para tocar na session pois ele estava se hospedando no apartamento em que eu morava com meu digníssimo e era fácil de levar. (no vídeo, meu querido violão folk sendo tocado por Thadeu Farias)
A princípio eu senti foi muito ciúme do meu violão. Eu sabia que esse amigo iria cuidar bem, mas poxa, meu violão iria na session que eu não podia. Até que eu me dei conta de que, mesmo que eu não estivesse, meu violão teria presenciado aquele evento. Ele carregaria um pedacinho da memória daquele dia e isso já me pareceu bom. Na casa dos meus pais começaram a chegar o irmão, a cunhada, a sobrinha linda e assim foi se formando a festa. Comemoramos as primaveras da matriarca e até tocamos umas músicas brasileiras, eu e meu pai, que de vez em quando fazemos um sonzinho juntos. Foi bonito e rolou música boa! Como diria Renato Teixeira: “o resto da noitada eu não posso contar”.
Segundo meu violão, a session também foi ótima. Às vezes dois eventos que a gente ama vão acontecer no mesmo dia e não dá pra estar nos dois. Mas você sempre pode mandar "alguém" no seu lugar rs.
Session 2: Fomos juntos.
Era pra ser só mais uma session, mas acabou se tornando um encontro potente e divertido.
Era um sábado, algum de 2019, com certeza depois do dia 14/9 e havia uma session marcada para às 16h em um ótimo pub da Zona Sul de São Paulo. O horário era para facilitar a logística dos integrantes da banda Terra Celta de forma que eles pudessem participar da session e, em seguida, ir fazer um show. Ou seja, a premissa já estava excelente.
Além da excelente premissa, eu estava ansiosíssima para fazer um som depois de não ter ido à uma session algumas semanas antes por estar no interior. Também estava um pouco nervosa pois era eu quem estava falando com o gerente do pub e pedi para que os músicos não tivessem que pagar a entrada (este pub tinha entrada paga). Eu estava torcendo pra vir bastante gente.
A session começou, alguns amigos começaram a chegar e a coisa começou meio tímida, uma tune daqui, outra dali e “vamo que vamo”. Puxa uma “Banish Misfortune”, rola um “Musical Priest” e mais amigos entrando no pub. “Ufa, que alívio” o bar está enchendo um pouco.
Quando num segundo em que olhei pro lado de fora, vi andando na direção do pub um rapaz que se parecia muito com um integrante de uma banda de São Paulo que eu gosto muito, o Bardo e o Banjo. Pensei: ah, imagina, não deve ser ele. Mas em seguida, notei um outro rapaz cabeludo e barbudo segurando um contrabaixo acústico. Não tinha como duvidar, eram eles mesmos e estavam vindo tocar com a gente.
Quando me dei conta, além dos integrantes da Terra Celta que já estavam por ali, estavam tocando também os músicos do Bardo e o Banjo. E aquela, que era uma simples session em um sábado a tarde, tornou-se um baita encontro potente e divertido entre músicos de estilos diferentes.
E assim, eu e meu querido violão folk tivemos mais uma aventura musical juntos!
Mas este não foi o fim…
Session 3: Beber e tocar, é só começar.
Eu achei que ia apenas ouvir mas afinal, era uma session não é mesmo?!
Não estou aqui querendo dizer que session é qualquer coisa e nem que dá pra chegar lá tocando de qualquer jeito e o que quiser. Mas eu adoro uma boa roda musical e essa, meus queridos, foi “daquelas”.
Depois de um dia épico como já vinha sendo, uma amiga querida, a Bárbara, escreve avisando que vai rolar uma session com o pessoal da Casa de Espanha de São Paulo no mesmo Deep Bar 611 já citado anteriormente.
Estamos animados? Lógico! Bora lá… saímos de uma session e fomos direto para a outra.
Quando cheguei e me dei conta era uma session galega. Ou seja:o estilo é outro, as tunes são outras, os instrumentos são outros e, por isso, achei que era uma boa ideia apenas assistir. E ainda por cima, esta session estava acontecendo porque um músico espanhol, Abraham Fernández, estava em São Paulo dando um workshop sobre a gaita galega.
Pareceu seguro só ouvir.
Mas, como nem tudo que parece é, o que vocês acham que aconteceu após algumas cervejas e um pouco de entrosamento? Quem respondeu que eu resolvi tocar está absolutamente correto. Quando me dei conta, eu estava lá no meio das pandeiretas e gaitas galegas como se o volume do meu humilde violão folk fosse tão forte quanto o delas. E o Abraham estava me ensinando a seguir o ritmo das tunes galegas. Perfeito!
Eu só queria participar daquele som maravilhoso que estava rolando. E acabou que ao final da noite o próprio Abraham veio tocar umas irish tunes na whistle com a gente também. Trocas são uma coisa maravilhosa.
E foi assim que eu e meu violão folk, aprendemos a acompanhar tunes e até canções galegas no meio dessa vibe maravilhosa.
E foi assim que, mesmo não estando em todas as sessions, eu pude sentir que, de alguma forma, participei delas todas.
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