Há muitas formas de conhecermos bandas novas, muitas vezes por indicação de amigos ou porque ouvimos no rádio e passamos a gostar, antigamente garimpávamos muita coisa em lojas de discos, hoje em dia o algoritmo do Spotify sugere o que você vai gostar mais. Essa tecnologia é recente e me encantou quando descobri a Last.fm por volta de 2005, época em que as coisas começavam a melhorar para os ouvintes de música diferentona, já que era muito difícil mesmo encontrar essa música nas lojas ou no rádio e dependíamos de downloads duvidosos em eMules da vida. Os resultados eram sempre os mais variados.
Foi na caça ao tesouro por música irlandesa com alguma qualidade que o supracitado site me sugeriu uma banda com nome estranho, não por ser em irlandês mas por ser o nome de praticantes de um curioso rito sufi da Turquia em que homens de saia branca e chapéu vermelho entram em transe girando como piões por muito tempo. Mas a música não era sufi, que por acaso também é muito interessante, mas era irlandesa e muito boa!
Foi assim que o Dervish entrou na minha vida, e atingiu o meu coração com mais força do que o pisão que eu levaria anos mais tarde da vocalista dessa mesma banda, Cathy Jordan.
Uma das coisas que mais me chamou à atenção no princípio foi justamente ela, natural de Roscommon, com uma voz muito precisa de timbre característico e interpretações dramáticas muito ligadas às histórias das canções, além de também tocar bodhrán, paixão imediata!
Outra coisa que me chamou à atenção foi o cuidado do grupo com o estilo e os arranjos. Enquanto o estilo, muito vivo e cheio de energia, é bem característico especialmente dos condados de Sligo e Leitrim, de onde são a maior parte dos integrantes, os arranjos são muito cuidados e frescos, às vezes quase progressivos, eu diria, e as duas coisas se juntam de forma muito coesa e sem esforços.
Isso provavelmente se deve aos mais de 30 anos de estrada somados aos anos anteriores em que quatro dos integrantes originais, Shane Mitchell (accordion), Liam Kelly (flute/whistle), Brian McDonagh (mandola/mandolin) and Michael Holmes (bouzouki), já tocavam juntos em sessions.
Pouco tempo depois do primeiro álbum do grupo, que na época se chamava Boys of Sligo, se juntaram ao grupo a vocalista e o violinista Tom Morrow, fechando assim a formação que está aí até hoje.
Foram 13 discos, trabalhos com artistas importantes e muitos shows em turnês pelo mundo todo, inclusive no Brasil. O Dervish foi o primeiro grupo de música tradicional irlandesa a tocar no Rock in Rio, na terceira edição, em 2001, um show que teve aproximadamente 250.000 pessoas.
Em 2019 foram premiados pela BBC Folk Awards e há quem diga que eles são os herdeiros do Bothy Band ou até dos Chieftains. Eu gosto de pensar que há um lugar para cada um dos deuses nesse panteão.
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