Esse é um dos instrumentos mais populares nas sessions de Galway e de outros cantos da Irlanda. Antes da pandemia começar me lembro de ir em uma session onde havia dois fiddles, um violão, uma concertina e OITO banjos. Pelo menos não é um instrumento tão alto como a uillean pipes ou o acordeon…se não imagina o caos? Claro que não é sempre assim e aquilo foi uma ocasião excepcional, mas é interessante pensar o porquê de o banjo ter se tornado um instrumento tão querido nas últimas décadas.
Muito resumidamente, sabe-se que o banjo é um instrumento do oeste da África e que foi levado para a América Central e do Norte por escravos africanos. Estes escravos junto aos imigrantes Irlandeses e Escoceses (Scottish-Irish, como eram chamados na época), deram origem ao Old Time, Bluegrass e muito do folk americano que conhecemos hoje em dia, por misturar ritmos e linguagens do banjo com o fiddle. Tanto que é possível achar as mesmas tunes irlandesas /escocesas na música folk americana, porém com nomes e letras diferentes. Essa mistura abriu muitas possibilidades e gêneros, influenciando o Jazz, o Blues, o Rock, o Country… E por consequência, também influenciou a atual música tradicional irlandesa, já que anos depois muito da cultura americana voltou para a Irlanda.
O primeiro banjo que chegou à ilha esmeralda era chamado de Minstrel Banjo, lá por meados de 1840. Com cinco cordas de tripa, corpo de madeira e sem trastes no braço do instrumento, este banjo normalmente acompanhava canções tradicionais e usava-se o “stroke style”, que hoje é mais conhecido como "clawhammer''. A maravilhosa Rhiannon Giddens é uma das representantes atuais desse estilo, e no vídeo você pode ver como funciona a mão direita (polegar e indicador, basicamente) e a condução da harmonia e melodia.
Assim como o violão, o bouzouki, o bandolim e outros instrumentos, o banjo só começou a ganhar relevância de verdade na música irlandesa com a chegada do folk revival na década de 1970. Tommy Makem foi um dos primeiros a aparecer na mídia irlandesa cantando Irish Songs e tocando seu banjo 5 cordas, já muito usado nos EUA, mais ou menos no estilo do americano Pete Seeger.
Mas foi Barney McKenna, dos Dubliners, já usando um banjo de quatro cordas que revolucionou o banjo tenor irlandês mudando a afinação para G-D-A-E, assim como o fiddle (porém uma oitava abaixo) para assim poder se adequar e acompanhar as melodias das tunes, que é como a maioria dos instrumentos do trad funcionam. O uso da palheta foi necessário para esse propósito e trouxe possibilidades de ornamentação, como os triplets, que são os mais usados no banjo tenor.
Como sempre dizemos aqui no O Pint Diário, a música tradicional irlandesa é mais viva do que nunca e está sempre se movendo para direções diferentes, e o banjo está sendo parte desta trajetória. Banjoístas contemporâneos como Cathal Hayden, Gerry O'Connor, Pauline Conneely e Enda Scahill estão aí revivendo tunes antigas e ao mesmo tempo trazendo sonoridades mais modernas para esse instrumento tão cheio de história e vertentes, como no vídeo abaixo de Cathal e Seamie O'Dowd.
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