Sempre fui apaixonada por música instrumental, especialmente de culturas e ritmos diferentes. Por volta dos 9 anos comecei meus estudos de flauta transversal, e me lembro de um CD na estante de casa com o título de música “celta”. Claro que naquele álbum não havia apenas música irlandesa ou nem mesmo propriamente celtas, mas algumas das faixas eram tunes tradicionais. Aquilo me chamou muito a atenção na época e após alguns anos, compartilhando meu gosto musical com meu primo e amigo Gustavo Lobão (também estudante de música na época), começamos a pesquisar mais sobre o assunto e fomos conhecendo mais pessoas que também gostavam da mesma música, fazendo parte de bandas cover e frequentando as famosas sessions no bar Olivo, em Perdizes, São Paulo, organizadas por um dos pioneiros da cena trad brasileira Rik Dias.
Eis que em meados de 2010, eu e Gustavo decidimos nos aprofundar e viver um pouco mais de perto aquela música, e assim decidimos fazer um curso de verão na Universidade de Limerick, na Irlanda. A experiência foi única e acho que foi ali que percebemos nossa verdadeira paixão pela música tradicional irlandesa. Claro que, assim que voltamos para o Brasil, resolvemos montar uma banda para poder tocar tudo que aprendemos na ilha esmeralda. Assim nasceu a banda Oran em sua primeira formação - comigo na flauta e tin whistle, Gustavo no bodhrán e percussão, Fernanda Kostchak no fiddle, César Benzoni no bandolim e violão, e Danny Littwin no bouzouki e violão.
O som da banda consistia em arranjos de tunes e sets tradicionais, e com o tempo fomos incluindo tunes e canções originais, como The Last Coffee Reel (de Fernanda Kostchak) e The Cooley Jig (de Danny Littwin). Começamos a tocar em pubs, casamentos, festivais e tivemos o grande prazer de participar do concurso Trophée Loïc Raison no Festival Interceltique Lorient, na Bretanha - França. Foi um momento de grande importância para a banda e especialmente para mim, que buscava entender melhor minha identidade musical naquele meio.
Após algum tempo, alguns integrantes da banda tomaram outros rumos. Me vi um dia no sofá, meio triste pensando que era o fim daquele projeto que eu e Gustavo havíamos montado, e de repente ouço a voz do nosso querido “nova-iorquino da gema” Danny Littwin dizendo - Ei, toca alguma coisa! - e comecei a puxar um set de slipjigs que gosto muito. Quando percebemos, nós três estávamos horas tocando e criando novamente, e assim levando o nome da Oran como trio. E foi entre alguns shows e festivais que tivemos a enorme sorte de conhecer a violinista e rabequeira Carla Raíza, que começou a entrar no universo da música irlandesa e tornou-se mais uma integrante oficial da banda, trazendo outros ares e um novo toque, nos inspirando a tocar mais tunes originais como The Cake is in the Kitchen, Tunes for Gus (de Andrew Finn Magill) e The Arrival of Martin O’Sullivan.
A partir daí, gravamos nosso primeiro álbum “Oran”, tocamos em vários festivais e eventos pelo Brasil, formamos uma parceria muito querida com os dançarinos da Cia Celta Brasil, e adotamos o pub Deep Bar 611, na Barra Funda - São Paulo, para ser nosso “local” (Na Irlanda, “local” é o pub que você adota como favorito e onde se toma seu pint diário) e começar uma session mensal para receber pessoas novas, antigos amigos, e ter a chance de tocar juntos, que é o melhor que a música irlandesa nos oferece.
Brincamos que Oran é uma instituição viva, pois muitos músicos já passaram e continuam deixando seu toque especial no som da banda, como Sandro Henrique Bueno (tin whistle, flautas e gaita), Amanda Pinheiro (bodhrán), Gabriel Moreira (flauta transversal e clarinete) e Thadeu Farias (banjo e bandolim).
Espero que esse projeto que começou em 2011 com dois jovens amantes da cultura Irlandesa continue trazendo pessoas, composições e ideias novas, mantendo essa energia tão maravilhosa e tão única.
Comments