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Foto do escritorMila Maia

Steve Cooney, Iarla Ó'Lionáird e Dermot Byrne em uma noite inesquecível

Atualizado: 21 de abr. de 2023




Há alguns dias atrás eu e Gustavo Lobão tivemos a oportunidade de ver algo especial de perto. BEM de perto, na verdade. Assim que vi o anúncio de uma série de shows intimistas com alguns dos músicos mais lendários do trad no Stiúideo Cuan, que fica apenas a 20 minutos de casa, corri pra comprar meus ingressos. Como não dava para ir em todos os shows da série, escolhi um que ainda não tinha visto ao vivo. Steve Cooney + Iarla Ó’Lionáird + Dermot Byrne.


A casa de shows, que na verdade é um baita estúdio de gravação, fica em Spiddal, costa da Connemara na região gaeltacht (onde o irlandês é a língua principal). O espaço é perfeito para este tipo de show mais “aconchegante” e para ter esse contato mais próximo aos artistas. Apesar de não entendermos quase nada do que todos falavam (inclusive os próprios músicos), deu para “pescar” bastante coisa. E também rolou um pouco de inglês no palco… acho que perceberam dois brasileiros perdidos no meio de tanto irlandês e nos deram uma colher de chá com a língua.


Mas antes de contar alguns detalhes do show, quero apresentar brevemente esses músicos tão especiais.


Iarla ’ÓLionáird é cantor e produtor musical e adota o Séan-Nós Singing como estilo. Ele nasceu na região gaeltacht de Cork e canta desde muito pequeno e vem de uma família de cantores super tradicionais, incluindo sua avó Elizabeth Cronin, a qual podemos dizer que é a responsável por tantas canções antigas terem sobrevivido até hoje. E Iarla continua cumprindo esse papel com vários projetos musicais como The Gloaming, Afro Celt Sound System, Nick Cave, Sinead O’Connor, Robert Plant, e claro, seu projeto solo.


Steve Cooney é um renomado violonista Australiano de família Irlandesa. Steve tem um jeito bem particular de pensar o acompanhamento da música tradicional e é considerado um gênio por várias pessoas. Além de ser um grande estudioso e ter uma bagagem forte de rock, jazz e outros estilos, Steve também é poeta, escritor e pensa a música de uma forma nada convencional - até por isso, foi premiado por ser o criador de uma nova forma de notação musical e maneiras de entender a harmonia. Seu mais recente trabalho é o álbum ‘Ceol Ársa Cláirsí: Tunes of The Irish Harpers for Solo Guitar’.




Dermot Byrne, de Donegal, é um virtuoso do box (acordeon) renomado desde pequeno, quando foi considerado uma criança prodígio. Foi membro da banda Altan por muitos anos e ainda performa com grandes músicos da cena atual como Sharon Shannon, Frankie Gavin, Donal Lunny e etc.




Mas voltando ao estúdio - Tom Barry, um cantor e compositor de Galway, abriu o show com suas canções lindas que falam bastante sobre a região onde estávamos. Foi um belo jeito de entrar no clima para a apresentação principal! Após a abertura, Steve, Iarla e Dermot estavam se ajeitando no palco e cumprimentando algumas pessoas da plateia. Até que Iarla nos viu ali na primeira fileira e nos disse alguma coisa em irlandês, e nossa reação foi só sorrir e dar aquela resposta brasileira genérica “Olá, tudo bem? Tudo bom, bem, bom e você”. Aí ele percebeu que não fazíamos parte daquele contexto super irlandês, desceu do palco e veio bater papo com a gente. Falou que adoraria ir para o Brasil mas que ainda não teve a oportunidade, e voltou para o palco já que os outros músicos estavam em seus respectivos lugares.


O show foi sensacional, do começo ao fim. Eu e o Gustavo ficamos ali vendo cada detalhe dos três monstros que estavam na nossa frente, sentindo cada nota de cada instrumento.

Eu já era grande fã do Steve Cooney mas foi ali que eu fiquei completamente encantada com o som dele. Super delicado e preciso, parecia que estava tocando uma harpa em vez do violão, acompanhando reels, slides, jigs e séan-nós songs de uma maneira extremamente única. Dava para sentir sua respiração e o quanto ele estava imerso na música, fazendo parecer que não havia mais nada ao seu redor além da música.


O repertório era variado, mas como era um show com muita coisa do repertório de Iarla Ó’Lionáird, o séan-nós foi o grande destaque. As letras diziam muita coisa e eles sempre faziam questão de explicar a história por trás das canções, mas por conta do nosso irlandês praticamente nulo não conseguimos entender metade das histórias. Mas já valeu a intenção!

O ponto alto do show para mim foi quando tocaram ‘Casadh an Tsúgáin’, uma canção que eu conheci pelo Gloaming e que anos atrás, vimos Iarla cantando na tela do cinema em São Paulo enquanto assistimos o filme “Brooklyn”. Foi um momento muito mágico ver aquela mesma cena de anos atrás ali ao vivo na nossa frente, com o mesmo

cantor, na mesma interpretação.



Outro momento mágico foi quando tocaram ‘Srutháin’, uma canção secular na qual Iarla e Steve ressuscitaram cuidadosamente nas suas buscas de canções antigas. Olha que arranjo mais lindo!


A dupla Steve e Iarla vem fazendo concertos há algum tempo e a conexão dos dois transparece no palco (que aliás, que figuras! Os dois quando não estão tocando, estão fazendo palhaçada e isso rendeu altas risadas). Mas a adição de Dermot Byrne como convidado especial foi a cereja do bolo. Dermot ornou muito com a sintonia dos dois e o som do seu box somou a cada nota cantada. E no bis, deu um mega show tocando um set de hornpipe e reel que deixou todos boquiabertos.


No final da noite, conseguimos conversar um pouquinho com Steve Cooney e ficamos batendo um bom papo com Iarla e seu belo pint de Guinness. Falamos sobre a música no Brasil, instrumentos e viagens… Uma noite no mínimo inesquecível!






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